Chegamos à quinta postagem do
Blog Bioquímica e Atenção Básica! Na postagem de hoje, iniciaremos uma
discussão sobre um dos Programas mais polêmicos do Departamento de Atenção Básica:
O Programa Bolsa Família(PBF). Nessa primeira publicação sobre o tema, serão
expostos argumentos que questionam a eficácia desse programa. Já na postagem da
próxima semana, serão discutidos fatos que evidenciam as melhoras decorrentes
do Bolsa Família e que justificam a sua continuidade.
O Programa Bolsa Alimentação, que atualmente é chamado
de Programa Bolsa Família (PBF), foi criado em 2001. Trata-se de um Programa de
Transferência Condicionada de Renda. Programas desse tipo foram desenvolvidos em
todo mundo, com o apoio do Banco Mundial. O valor do benefício destinado a cada
família pode variar entre R$ 32,00 e R$ 306,00 e depende do número de crianças,
adolescentes e gestantes na família. Os objetivos
do PBF são o combate à pobreza e à fome e a promoção da segurança alimentar e
nutricional. Dentre as consequências esperadas estão a melhoria da renda e dos
padrões de alimentação.
O primeiro ponto negativo apontado
pelos críticos do Bolsa Família é, justamente, a dificuldade de avaliar a sua
efetividade. Isso, porque os dados sobre as famílias participantes do Programa
não são repassados como deveriam. De acordo com as normas estabelecidas pelo
governo, as diferentes esferas deveriam estar articuladas no sentido de repassar
os dados sobre o Programa. O acompanhamento de saúde e do estado nutricional
das famílias, por exemplo, é realizado pelas unidades básicas de saúde em cada
município. Estes dados são monitorados pelo Sistema de Vigilância Alimentar e
Nutricional (SISVAN), que os repassa para o Ministério da Saúde. Ou seja, os
dados de uma unidade básica de saúde no Piauí, assim como de qualquer outra
parte do Brasil, devem chegar até Brasília, para serem processados e cruzados
com os dados do Bolsa Família. Ocorre, porém que grande parte desses dados não é registrada, pois muitos dos beneficiários não compareçam às unidades de
saúde. Desta forma, fica evidente que a avaliação da efetividade do programa se
defronta com muitas dificuldades.
Estudos
independentes mostram que as famílias assistidas pelo Bolsa Família tendem a
gastar uma parcela importante do benefício com a compra de alimentos. Porém, o
aumento do acesso aos alimentos não indica, necessariamente, diminuição da
insegurança alimentar ou aumento do bem-estar nutricional das famílias. Isso,
porque além dos entraves econômicos- os quais o Bolsa Família tenta reduzir-
existem outros fatores que interferem na escolha dos alimentos, como a
disseminação de propagandas de produtos de baixo valor nutricional e caloricamente
densos e a falta de informações sobre a realização de uma nutrição completa,
saudável e adequada. Logo, é comum o consumo excessivo de carboidratos e
lipídeos pelos beneficiários do Programa, em detrimento do consumo de proteínas.
Vale
ressaltar que o organismo humano possui reservas de lipídeos, encontradas
principalmente na forma de tecido adiposo (glicerídeos), e reservas de
carboidratos, encontradas principalmente no fígado, na forma de glicogênio.
Porém, o ser humano é incapaz de armazenar proteínas. Além disso, proteínas são
capazes de se converter em lipídeos e carboidratos em algumas vias metabólicas,
mas o contrário não ocorre. Logo, as proteínas devem ser obtidas na
alimentação. Assim, uma alimentação que prioriza carboidratos e lipídeos é
bastante nociva ao corpo, podendo gerar problemas como a obesidade e o
diabetes, além de distúrbios decorrentes da falta de proteínas.
Outro estudo brasileiro mostrou relação entre o nível de dependência da
renda proveniente do benefício do PBF e o aumento no consumo de açúcar. Os
autores ressaltam que os beneficiários priorizam a ingestão de alimentos
industrializados ricos em energia, o que se traduz em hipertensão arterial,
sobrepeso e obesidade.
Já um estudo realizado em Araraquara – São Paulo, revela uma outra falha
no Programa: a falta de acompanhamento. A pesquisa relata que metade das
famílias (51%) participantes possui pelo menos uma pessoa com algum problema
crônico de saúde, tais diabetes e/ou hipertensão. Ou seja, grande parte ainda
necessita de cuidados em relação à saúde, a partir do que se pode concluir que
existe um precário acompanhamento da saúde por parte do Programa, que se
compromete com esse acompanhamento.
Programas de transferência condicionada de renda, como o Bolsa Família, contribuem para o bem-estar nutricional quando são combinados com outros tipos de intervenções, como ações de promoção de alimentação saudável, regulamentação da propaganda de alimentos, programas de infraestrutura e ações que impactam o sistema produtivo, como geração de emprego, formalização do trabalho e estabilidade dos preços dos produtos.
Além disso, esse mesmo estudo
revela que somente 14% dos adultos que são beneficiados pelo Bolsa Família
trabalham permanente; 40% trabalham sem registro em carteira (temporariamente
ou por conta própria) e 30% estão desempregados, procurando emprego. Logo,
percebe-se que o percentual de titulares autônomos e desempregados é elevado, o
que descaracteriza, para alguns, o programa quanto à proposta de evitar as
práticas assistencialistas, já que para os desempregados, o PBF constitui a
principal fonte de renda, e não uma simples ajuda. Isso, segundo alguns
defendem, pode levar à acomodação.
Fontes:
http://pesquisa.bvs.br/brasil/resource/pt/lil-611721
http://www.scielosp.org/pdf/rpsp/v33n1/a08v33n1.pdf
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232012000300015&lang=pt
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext_pr&pid=S0011-52582009010100001
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-70122012000100003&lang=pt
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102013000601039&lang=pt
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732011000600002&lang=pt
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232014000501331&lang=pt
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232014000501331&lang=pt